
Durante uma visita ao Amapá, o embaixador da Áustria no Brasil, Stefan Scholz, teve a oportunidade de degustar o vinho de açaí, que ostenta a autenticidade da Amazônia. Ele ficou tão impressionado que sugeriu ao Itamaraty a inclusão da bebida nos jantares oficiais oferecidos pelo governo a autoridades estrangeiras. Além disso, o embaixador propôs a presença desse produto no cardápio da COP30, que ocorrerá em Belém.
A bebida passou por uma avaliação minuciosa da Embrapa, em um relatório de 39 páginas, que a comparou ao vinho da uva Touriga. Outros apreciadores a associaram ao Tempranillo espanhol ou ao Tanat uruguaio.
No entanto, não são apenas os perfis físico-químicos que revelam esta proximidade entre as duas bebidas. Análise sensorial com 50 provadores, consumidores habituais de vinho, mostrou as semelhanças.
De acordo com o chefe-geral da Embrapa Agroindústria Tropical, Gustavo Saavedra, a bebida da polpa de açaí, especificamente do rótulo Curiaú, surpreendeu os provadores.
Ele acredita que o produto apresenta grande potencial de inserção mercadológica após passar por ajustes tecnológicos.
“O principal desafio é o de criar uma marca característica, que traduza o que é o produto para o grande público consumidor, uma vez que a denominação vinho é exclusiva para a matéria-prima uva”, observa o pesquisador.
PRODUÇÃO
Desde que se afastou da arena política, o ex-senador e ex-governador do Amapá, João Capiberibe, concentrou-se na pesquisa e na produção de vinhos à base de açaí. Atualmente, a produção atinge 2,5 mil garrafas mensais do “Wine-Flor da Samaúma“.
Capiberibe, destaca que a inspiração para desenvolver uma carta de “vinhos” à base de açaí surgiu quando foi presenteado com uma garrafa do produto fabricado no Acre.
“Fiquei impressionado com o sabor único daquela bebida e resolvi desenvolver uma receita própria, pois percebi tratar-se de um produto que se encaixa na nossa concepção de economia para o crescimento sustentável da Amazônia”.
Um ano depois, a Flor de Samaúma lançava quatro rótulos da bebida produzida no Amapá.

Composição
Na composição mineral, a bebida apresentou uma semelhança com fermentados de uvas Chardonnay e valores superiores aos de frutas como jaca, maçã e morango, coerentes com a composição do açaí.
Contudo, os pesquisadores informam que a intensa cor vermelha, destacada pelos degustadores, precisa ser melhor caracterizada quanto à tonalidade.
O produto foi considerado límpido, encorpado e com adstringência típica de vinhos secos.
Na análise físico-químicas foram caracterizados aspectos como acidez, pH, teor de proteína, vitamina C, açúcares redutores, antocianina, intensidade de cor e minerais.
A amostra da bebida de açaí foi comparada ao fermentado de acerola e de alguns vinhos tintos brasileiros. A legislação brasileira estabelece que os valores de acidez total para o vinho tinto podem estar na faixa de 50 a 130 miliquivalentes (mEq) por litro.